Como aceitar suas limitações e viver melhor?
Estava numa estação de Metrô perto das 8 da manhã em São Paulo e os trens chegavam superlotados. Não só eu, mas várias pessoas permaneciam na estação aguardando o próximo trem na esperança de chegar um mais vazio. A realidade era que era impossível entrar mais alguém naqueles trens lotados. Esperamos vários, até que surgiu um com alguma vaga.
Enquanto aguardava o próximo trem, observava as pessoas, meditava, e vi passar por mim um rapaz apoiado pelo braço por outra pessoa, talvez o pai. Ele aparentava ter uns 12 anos de idade, e caminhava com dificuldade, pois tinha uma importante limitação na articulação dos joelhos, de maneira que não podia ficar em pé. Cada passada era dada com dificuldade.
Os trens lotados e a lesão nas pernas do rapaz são exemplos de limitações na vida. Todos sofremos limitações. É verdade que uns mais que outros. Sejam físicas, como no caso do rapaz do metrô, sejam emocionais, intelectuais, etc.
Temos um potencial a ser alcançado como indivíduos. Quanto mais se exercita o cérebro com coisas construtivas, melhor ele funciona. Exercícios físicos constantes produzem bons resultados de saúde geral. Mas há um limite para cada ser humano.
Cada criança nasce com um “kit”de sobrevivência. Uns mais equipados que outros. Isto não é justo, mas é assim. Tem “kit”com mais recursos e por isso produzem melhores resultados sociais e emocionais. Mas não é o “kit”o mais importante para o desenvolvimento da pessoa. Há o aprendizado emocional e a sensibilidade pessoal. A influência dos três resultam no comportamento, mais ou menos equilibrado e funcional.
Podemos lutar contra nossa limitação, herdada ou aprendida, luta esta que piora as coisas se ela é dirigida no sentido de negar a limitação. Aceitar a limitação que a pessoa consegue percebe-la, facilita o viver. Claro, para aceitar é preciso entender o que ocorre. E este entendimento da limitação pessoal pode ser doloroso, pois ao vermos nossos limites podemos nos sentir inferiores, entristecidos, frustrados, desanimados. Se compararmos nós mesmos com pessoas que são mais do que somos, aí pode doer mais.
A solução está não em comparar, mas aceitar o que é possível ser nesse momento da vida. E talvez aceitar que realmente nunca poderemos ser como outras pessoas que provavelmente nasceram com um “kit”mais completo por exemplo. Ou que tiveram um meio ambiente de criação mais propício (ou independente disto). Ou que eram não tão sensíveis a ponto de resistirem melhor aos embates na vida.
Verdade é que alguma coisa faz algumas pessoas reagirem com mais força, determinação e perseverança. O “pique”é maior e mais forte, naturalmente. Elas lutam mais, se esforçam mais, perseveram mais. Por isso obtêm melhores resultados.
É importante aceitar a limitação, aceitar que o que você pode fazer e ser hoje não é o que gostaria, que não se encaixa no modelo de pessoa sonhada. Não aceitar aumenta a ansiedade e a tensão interna. Aceitar ajuda a ficar no nível possível, com serenidade, e é isto que favorece o crescimento. Isto exige humildade, honestidade e sinceridade pessoais. E lembrar que não somos deuses. Somos seres parciais. Só podemos em parte. Mesmo a pessoa forte que nasceu com um “kit” bem completo só pode em parte. Ela é frágil em algum ponto, como qualquer outra pessoa. Se tanto ela quanto a que nasceu com um “kit” menos equipado se tornarem uma pessoa saudável mentalmente é porque a diferença tem sido feita em que elas não se atacam por isto, não se concentram nisto, não negam isto. Elas aceitam a limitação sem desistir da luta para crescer.