sábado, 26 de março de 2011

Envelhecimentose e dependência.


Envelhecimento e dependência

No que diz respeito a envelhecer, acredito que muitas pessoas compartilham um medo em comum: do avanço da idade trazer consigo a dependência.

Para pensar um pouco mais neste tema, precisamos definir sucintamente alguns conceitos. A independência fica compreendida como a capacidade de ir e vir, realizar atividades sem a ajuda de terceiros. Já por autonomia entende-se a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente. A autonomia e a independência são duas esferas importantíssimas na vida do adulto. Precisamos também pensar em duas situações de dependência: o idoso com bom estado geral de saúde, mas dependente devido a problemas cognitivos (como a Doença de Alzheimer, que compromete seu modo de pensar, agir, tomar decisões, sua linguagem, dentre outros domínios); e o idoso com estado cognitivo preservado e problemas de saúde incapacitantes (lúcido, porém com doenças orgânicas que o fazem necessitar da ajuda de terceiros). A partir dessas definições, iniciaremos nossa discussão sobre o idoso que, a uma certa altura da vida, perde permanente ou temporariamente sua independência e sua autonomia, porém, permanece lúcido, tendo consciência de tudo o que está acontecendo consigo e ao seu redor.

Tenho pensado nesta situação há aproximadamente um mês. Recuperando-me de uma cirurgia, vejo-me diariamente com minha independência bastante comprometida. Muitas vezes até minha autonomia é afetada, já que conto com a ajuda de outras pessoas para ir e vir, preciso antes saber se alguém pode me levar a algum lugar para só depois dar a resposta se posso ou não assumir determinado compromisso ou aceitar um convite. Conto os dias para este período passar, porém tenho a garantia de que em pouco tempo tudo voltará à realidade, mas o que passa na cabeça do idoso que não tem perspectivas de se restabelecer?

Nesses momentos que paramos para pensar e damos valor às coisas mais simples que fazemos no dia-a-dia, porém que fazem uma grande diferença para o nosso bem-estar: pegar um copo de água na geladeira, cortar a própria comida no prato, mudar de posição enquanto deitados, tomar banho, dirigir, sair, coçar as costas, trabalhar, pentear os cabelos, escrever, pegar um objeto nas mãos, dentre outras coisas que nos tornam independentes e que passam despercebidas.

Uma situação de dependência muda drasticamente a rotina da pessoa que passa pelo problema e daquelas ao seu redor. Passa a ser necessária a ajuda de alguém para realizar tarefas simples, como estas descritas no parágrafo anterior. O idoso que foi independente por toda a sua vida tem muita dificuldade para se adaptar a esta nova realidade. Além de lidar com o fantasma da dependência, lida também com sentimentos de vergonha, com o preconceito de muitos de consideram velhice como sinônimo de incapacidade, com seus próprios sentimentos de não ser mais capaz, com uma baixa auto-estima, com o constrangimento de “incomodar” os outros, dentre outros sentimentos relacionados à situação na qual ele se encontra. Quando o cuidador demonstra-se pouco disponível, cansado, ou quando há jogo de empurra para quem irá ajudar, o idoso tende a se sentir ainda pior, triste, depressivo e constrangido.

O idoso dependente que outrora tinha uma boa rede social agora passa a ter dificuldades em procurar seus amigos. Infelizmente nesta hora alguns amigos desaparecem, o que piora ainda mais o estado geral do idoso: dependente de outras pessoas, doente, em algumas vezes com dor, limitado, e sem amigos para conversar. Ninguém quer correr o risco e corresponder ao estigma de idoso inválido, dependente, abandonado e, pior de tudo, lúcido, tendo total consciência da triste realidade que o cerca. E nós, o que podemos fazer para minimizar o sofrimento dos idosos nesta situação?




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